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Frente e Verso: Elisa Riemer

  • Foto do escritor: ateliedoisemeio
    ateliedoisemeio
  • 23 de abr.
  • 5 min de leitura
FRENTE E VERSO é uma série de entrevistas que explora o percurso criativo de artistas de diversas linguagens. A cada episódio, um artista compartilha um pouco da sua trajetória, suas inspirações e os desafios que surgem no caminho. Cores, técnicas e ideias se encontram no papel, revelando histórias de quem cria, transforma e imprime.

Fotografia Isa Angioletto


ELISA RIEMER é artista gráfica, artivista e amante. Constrói sua arte em meio a própria autodescoberta e coloca em suas imagens toda a sensibilidade da arte de adentrar o próprio universo. A complexidade das relações entre mulheres, do amor e das muitas sensações que ele desperta são descritas em símbolos, montagens, trabalhos de colagens e fotomontagens.


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DOIS E MEIO O trabalho minucioso com bisturis e tesouras é bastante simbólico e performático. Como vê esse fazer em tempos de tantos recortes digitais? Existe algum ritual com relação a ele?

ELISA RIEMER Eu sou extremamente conectada com a colagem por ter me encontrado nessa coisa que chamo de "cirurgia poética". É como se com os bisturis e tesouras a gente conseguisse extrair todas as emoções das vísceras, o peito aberto, coração na mão. Me sinto fazendo essa cirurgia delicada, sutil... gosto de pedaços bem pequenos e desafiadores, gosto de deixar mensagens para ser encontrada depois, anos depois... A parte ritualística é que trabalho com postais de pessoas que já fizeram a passagem. Gosto de pedir licença, permissão e conseguir sentir se posso ou não usar as imagens dessas pessoas. Como disse meu amigo Yann uma vez, "Todo fantasma tem um desejo: ter sua história contada e finalmente ter um túmulo digno". É disso que meu trabalho também se trata.



DOIS E MEIO Você incorpora imagens para o seu acervo de forma constante? Já teve algum

achado inusitado neste processo?

ELISA RIEMER O tempo todo encontrando postais e colocando no acervo. São muitas histórias hoje que consigo acompanhar, quando comecei os postais eram postados em leilão e quase não se tinha informação de quem era, a pessoa que estava nele, e a história por trás de tudo. Hoje me surpreendo cada vez mais com a quantidade de histórias por trás de cada foto, de cada pessoa ali. Agora na concepção do baralho de Thoth, é a primeira vez que estou fazendo um documento de registro histórico dos postais e fotografias a quantidade de informação é incrível, as histórias de pessoas que não tiveram suas vidas homenageadas ou lembradas. Estou fazendo isso na construção do Thoth.


Arte de Elisa Riemer: Divulgação


DOIS E MEIO Temos a honra de tê-la como parceira da Dois e Meio e de imprimir suas obras. Quais são seus principais critérios na escolha das imagens que serão impressas e qual é a importância da impressão de alta qualidade e durabilidade no seu processo artístico?

ELISA RIEMER A durabilidade da obra e a fidelidade de cores. Vocês têm maestria e cuidado no que fazem. Amor. Isso dá pra sentir. Eu sinto uma desconexão muito forte do desmerecimento do processo de impressão. Eu trabalhei 4 anos em gráfica. Eu tenho um carinho enorme pelas mãos que cuidam do papel, as que entendem do processo de pigmentos e o respeito na hora de lidar com a obra impressa. Vocês tem tudo isso <3



DOIS E MEIO As redes sociais querem vender a imagem do artista 24/7 inspirado e glamourizado. Sabemos que muitos processos demandam muito tempo e frustrações, como a concepção e desenvolvimento de uma exposição. Pode nos falar um pouco do processo de construção da exposição “AnatoMinha”?

ELISA RIEMER Um reflexo social da sociedade da web, o espelho da mentira. Eu tento agir da maneira mais sincera possível. Quem está próximo de mim, ou até nas minhas redes sabem a quantidade de frustração e de limitações que eu compartilho sobre isso. É um corre muito louco esse circuito. Fiz a primeira peça de Anatominha em 2014, veja bem, terminei em 2023. Pra conseguir montar essa exposição foram muitos editais frustrados até que passei aqui na minha cidade. Consegui montar a exposição e tive a sorte de conhecer a Luciana Ramin, que viu o potencial para levar pra SP. Ela realmente acreditou no que eu estava fazendo, isso foi essencial. Então consegui levar para a galeria Olido e tive minha primeira Solo em SP, depois de mais de 15 anos de carreira. Tem gente que tem muita sorte e consegue antes. Eu ouvi por muitos anos que se eu não morasse em São Paulo eu jamais seria vista e estaria aí. Anatominha foi um presente e algo emocionante no meu coração. Moro no interior do Paraná, e finalmente consegui.



Arte de Elisa Riemer: Divulgação


DOIS E MEIO Quer levar a “AnatoMinha” para outros locais?

ELISA RIEMER Nossa seria um sonho! Mas ao meu ver, só é possível levar as exposições para outros lugares através de editais. É muito difícil entrar no circuito de curadorias de grandes instituições ou museus, eu não consigo imaginar estar nesse espaço, se existe outra forma eu realmente desconheço.


DOIS E MEIO Depois que um artista ganha certa visibilidade no contexto das redes sociais, as pessoas imaginam que a pessoa está sempre no auge, em atividade. Qual foi o maior contraste que já viveu entre a percepção pública e sua realidade financeira/emocional?

ELISA RIEMER Realmente essa questão é muito importante. É muito cíclico né, como maré. Uma hora a gente tem certa visibilidade mas não significa que ela se transmutou ou resultou no dinheiro. É ilusório pensar que se estou saindo na mídia ou estar em veículos de grande audiência o dinheiro vem, estou falando da minha experiência. Essa visibilidade dura 1 semana e depois passa para a próxima novidade. Não fique contando muito com isso. Me lembro de uma vez quando eu e a Karine estávamos fazendo o mural do SESC e falamos sobre os "PULOS DO GATO" aqueles momentos que a gente dá tudo de nós para ter visibilidade e vamos para lugares que pensamos "UAL AGORA É O PULO" "AGORA MINHA CHAVE VIRA" mas a gente chegou a conclusão que esse "ganhar na loteria" não existe. É pra poucos, e que tenham MUITO contato dentro dos circuitos. Se você é mulher, tem 80% de chance de entrar no circuito só quando você fizer a passagem. 



Arte de Elisa Riemer: Divulgação


DOIS E MEIO Entre marketing, burocracias e redes sociais, quanto tempo sobra realmente para o trabalho de colagem? Isso já fez você questionar sua carreira?

ELISA RIEMER Várias vezes. Sabe eu já tive o gostinho de "viralizar" "ser postada por celebridades" e eu caí no abismo da cobrança que eu tinha que manter o ritmo. Isso é desgastante e frustrante. Tem uns 7 anos que to na Shadow Ban do Instagram, não importa o que eu faça minha conta não sobe e não é encontrada na busca. Sofro muitas denuncias do meu trabalho ser colocado enquanto pornografia. Já tive vontade de me adaptar e já fiz isso pra poder sobreviver, mas eu entendi...bem Elisa, é isso. As redes são isso pra você e ou você adapta ou morre, eu adaptei muitas peças. Hoje procuro não me preocupar se "alimentei as redes" ou não. Isso atrapalha totalmente o processo criativo e a gente passa a criar para as redes, para agradar. Ainda mais com as AI's. Esse grande vexame do momento que está dilacerando o mercado das artes a serviço do capital, não quero nem ver onde isso vai parar. 



DOIS E MEIO Para você, qual a importância do ensino de arte desde a educação infantil?

ELISA RIEMER Para além de técnica eu penso na arte como o princípio da máquina de imaginar, as crianças vão além, não tem limites... palavras têm vários sentidos e a arte leva elas para lugares onde tudo é possível. Em uma infância onde tudo ao seu redor está fragilizado, como a família, a escola ou os lugares que podem ser violentos, a arte é o agente transformador da sobrevivência. A Imaginação é tudo que temos. Isso refletiu muito na adulta que sou. Minha imaginação é tudo que eu tenho, é algo que ninguém nunca vai me tirar.


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Acompanhe o trabalho da artista Elisa Riemer:



 
 
 

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